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Caixa de pássaros

Caixa de Pássaros foi escrito pelo autor Josh Malerman, americano, e é seu romance de estreia.

Terror significa aquilo que causa medo, desconforto, apreensão, e é exatamente isso que Caixa de Pássaros nos provoca. Apesar de ser um livro com um pouco mais de 200 páginas, o que alguns leitores consideram ser uma obra pequena, Caixa de Pássaros é o tipo de livro que mexe com nossas sensações e ideias.

Ambientado em um cenário completamente caótico, a personagem principal chamada Malorie é uma mãe assustada, e com uma missão muito penosa: sair da casa onde vive, com duas crianças, pegar o barco e ir para um novo local onde há sobreviventes, comida, água, apoio e alguma segurança. E o detalhe mais importante: realizar tal tarefa com olhos vendados (inclusive as crianças).

Será que é possível? Será que pode acontecer uma tragédia? Será que uma mãe vendada consegue remar, acalmar os filhos também com olhos vendados e chegar ao destino?

Por que olhos vendados? O que está acontecendo?

Na realidade, o excesso de perguntas não é por acaso. O livro nos traz muitas dúvidas, questionamentos e diversas perguntas são feitas ao longo da leitura, não por ser uma obra mal escrita (pelo contrário!) e, sim pelo fato de estarmos envolvidos em um enredo totalmente estranho.

Quando o sentido da visão que, muitas vezes achamos que é apenas um detalhe da anatomia humana, nos é tirado podemos perceber de forma muito clara que fazemos de tudo para nos defender e que nosso corpo se adapta as piores condições possíveis.

O mundo não é mais o mesmo. Não existe luz. Não existe água potável. Não existe agricultura, e logo não há comida (eles vivem com os enlatados que conseguiram acumular). Não existe internet. Não existe sinal de televisão. Pouquíssimos telefones funcionam. Não existe rádio. Não existe rede social. Não existe hospital. Não existe jornal. Não existe meio de transporte como o ônibus, por exemplo. Não há governo. Não há mercado. Não há ideologia. Não há partido. Não existe o mundo como nós sabemos e conhecemos.

O fato é que existe alguma coisa ou alguém que, ao ser visto, pode adoecer as pessoas e fazê-las cometer crimes horrendos e até mesmo o suicídio. Durante a leitura, é impossível sabermos o que é isso: uma criatura, um ser humano disforme, um alienígena, um vírus? Por isso, os poucos sobreviventes, incluindo a nossa protagonista, não saem para a rua sem as vendas.

As janelas são totalmente veladas, e nem mesmo uma fresta pode ser olhada.

Medo. Pavor.

Para a nossa própria sobrevivência, o medo é necessário e é um meio de preservação. Quando vamos atravessar um cruzamento no sinal verde, por exemplo, sentimos medo de nos acontecer um acidente e, portanto o corpo se mantém atento e não atravessamos até que haja o mínimo de proteção. O medo não foi algo útil e benéfico? Sim. O grande problema é quando o medo deixa de ser um sistema de resguardo, e se torna uma doença. A partir do momento que o medo nos impede de fazer as tarefas mais ordinárias, ele deixa de ser algo positivo e precisa ser tratado e controlado.

E quando você não sabe do que sentir medo? E quando você não sabe o que te espera lá fora?

O medo do desconhecido é, sem dúvida, o pior de todos. Em Caixa de Pássaros, o medo do desconhecido é o que motiva os sobreviventes, o que os mantém vivos e em estado de atenção absoluta.

Da mesma forma que os personagens saem com vendas, nós leitores também nos sentimos tão cegos quantos eles. Ficamos na expectativa do que vem a seguir, o que aguarda na esquina da rua, de onde veio tal barulho. A sensação, no decorrer da leitura, é de impotência: você sabe que eles precisam de ajuda, de mãos para que a sobrevivência seja garantida pelo maior tempo possível, mas o que podemos fazer?

A personagem principal, Malorie, é uma mulher que a principio não acredita que esteja acontecendo algo atípico no mundo. Apenas depois de uma fatalidade, a morte de uma familiar, ela percebe que, além de estar grávida, está sozinha nesse mundo devastado. Ela encontra amigos, um teto, porém o que é mais notável: é a força e a coragem que ela tem. A resiliência, a capacidade de erguer a cabeça para cuidar dos filhos (mesmo que, em alguns momentos, ela seja muito irredutível na criação dos bebes) e buscar algum conforto em um mundo desalinhado.

De forma geral, o livro atende muito bem sua proposta: prender o leitor, de fazê-lo refletir sobre vida, solidão, coragem, sofrimento, medo, etc. Os personagens, cada um deles, mostrando os dois lados de nossas personalidades: bom e ruim.

“…é melhor enfrentar a loucura com um plano do que ficar parado e deixar que ela nos alcance.”

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