A maternidade não deveria ser vista como uma obrigação social ou um desejo natural da mulher e sim como uma escolha afetiva e livre.

Quando comecei a escrever, me deparei com um texto que muito me agradou. Um texto que questionava se as mulheres queriam realmente criar um filho ou ter um bebê. O texto fez um tremendo sucesso, sendo aplaudido por muitos e rendeu também alguns comentários grosseiros como todo texto importante gera.

A agressividade decorre, em minha opinião, do vislumbre de fantasmas internos que preferimos ocultar de nós mesmos. Quando alguém diz algo com que concordamos, mas não queremos concordar, normalmente reações agressivas explodem. Na verdade estamos brigando com a gente mesmo e o outro é apenas um canal para a nossa raiva contida.

As pessoas costumam rotular de egoístas as mulheres que não querem ter filhos. Mas talvez realmente egoísta seja a mulher que não quer ter um filho, mas mesmo assim o tem. Entendo que existe uma grande pressão social para que as mulheres sejam mães. Não me refiro àquelas que fazem uma escolha equivocada por ingenuidade, mas sim àquelas que optam por serem mães sabendo que não querem.

Nem todas as mulheres desejam a maternidade. Quando entrei em contato com este tema pela primeira vez em 2012 fiquei um pouco chocada pois na minha cabeça ter filhos era fundamental para todas as mulheres. Atualmente , entendo completamente a falta de desejo em ser mãe. Nenhuma mulher deveria se sentir obrigada a ter filhos por nenhuma razão que fosse o verdadeiro desejo de ser mãe e a real intenção de se comprometer com a educação do filho.

Sei que colocarei o dedo na ferida, mas infelizmente vemos muitas mulheres sem desprendimento algum lutando para serem mães. Mulheres que trabalham 14 horas por dia e que se colocam em primeiro, segundo e terceiro lugar querendo ser mães. Por quê? Para cumprir um preceito social? Para dizer que conquistou tudo que é importante para uma vida próspera?

Filhos não são bonecas com quem brincamos quando queremos. Filhos são seres humanos extremamente dependentes e exigentes que vão desejar o melhor dos nossos sentimentos, o melhor do nosso tempo e energia.

Criar bem um filho não se resume a pagar a mensalidade de uma boa escola e encher a criança de presentes caros. Criar bem um filho não se resume a decorar um quarto lindo para ele e levá-lo para a Disney nas férias de julho.

Filhos precisam da companhia das mães. Filhos querem ouvir histórias antes de dormir. Filhos querem ser abraçados e beijados. Filhos querem contar o que aconteceu na escola e pedem ajuda para fazer os deveres. Filhos não querem ser filhos apenas nas férias, feriados prolongados e meia hora por dia, entre a chegada do trabalho e a hora de dormir.

Não digo que uma mulher não possa conciliar uma carreira com maternidade. Claro que pode. Pode e deve. Mas mulheres muito voltadas para as sua carreiras, viciadas em trabalho, que vivem viajando a negócios e fazendo horas extra deveriam pensar calmamente se querem mesmo serem mães.

Quem deseja uma vida livre de horários, quem deseja fazer amor no meio da sala e tirar férias em qualquer época do ano, quem não se comove com o universo infantil e não se vê assistindo a teatrinho de escola, deveria ser sincero consigo mesmo e dizer “Não quero ser mãe”. A mulher não pode sentir que está desperdiçando a sua vida ao cuidar do filho. Se ela assim o sente, além de sofrer muito, fará a criança sofrer também. Crianças criadas com pouco afeto e paciência tendem a não conhecer limites e têm mais dificuldade para estabelecer vínculos afetivos fortes.

É muito triste ver tantas crianças vivendo de migalhas afetivas, aproveitando as sobras de tempo que a mãe oferece. Se o tempo é escasso mas carinhoso, ainda vai. E quando a mãe chega sempre tensa e nervosa e a criança aparece cheia de demandas? Ser mãe não é carreira nem emprego. É uma escolha afetiva , que deve ser feita com liberdade, sem pressão social.